Parceiros de Honra - Capitulo 01 : Coração Destemido
Seg Abr 06, 2015 8:33 pm
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Capitulo 01 : Coração Destemido - COMPLETO
Autores : Link de Park, Link Skyloftian Richter & K.Cibely
Autores : Link de Park, Link Skyloftian Richter & K.Cibely
Capitulo 01
Coração Destemido
Coração Destemido
- Spoiler:
- “ Bryan, Bryan! O que houve?, Bryan, Por quê estão todos mortos?... Bryannn!!! “
- BRYAN, NILSON, KENDALL, ACORDEM! JÁ ESTÁ NA HORA DE LEVANTAR MENINOS.-
Olhei para os lados ofegante e assustado, sentia as batidas do meu coração como se ele fosse a qualquer momento pular para fora de mim, e não encontrava aquele ar cheio de cinzas cheirando a pólvora, e onde estava aquele solo cheio de corpos e sangue? E as casas que estavam pegando fogo com seus moradores gritando por socorro?
Estava tudo tão radiante. Era notável a sutileza com que a luz do sol entrava pela janela e refletia no chão revestido de madeira. A claridade também penetrava os cantos do telhado, que era feito de uma pedra avermelhada de árdosia. Meus olhos embaçados só enxergavam o redondo telhado, sustentado por frágeis madeiras dispostas em horizontal e vertical. Era um ambiente totalmente diferente do que eu tinha acabado de sair. Não dava para acreditar, eu estava sonhando… mais uma vez...
- Você está suando muito, teve pesadelos outra vez? - Perguntou meu irmão Bryan, em pé ao meu lado com os olhos fixados em mim. Me coloquei sentado na cama apoiado pelos meus cotovelos, e o observei. Ele estava totalmente diferente do pesadelo que acabara de ter, usando sua túnica cor de pele, e uma espécie de bandana azul em sua testa, deixando escorrer seus cabelos verdes escuro, o que lhe dava uma aparência sombria.
- Não ouviram? temos que descer rápido, caso contrário a comida irá esfriar. - Disse Nilson , meu jovem primo, único da casa que sabe ler, mas com toda certeza o com menos criatividade, já que suas roupas não se diferenciavam muito das de Bryan, mesma túnica, mesmas botas. Ele estava sentado em sua cama se esforçando para encaixar uma simples bota em seu pé coberto de uma meia suja e fedorenta. Meu primo sempre fora compulsivo e parecia acreditar que conseguia fazer duas coisas ao mesmo tempo, já que sua mão esquerda estava concentrada em ajeitar sua bota e sua mão direita em arrumar seus cabelos, enquanto ele via seu reflexo em uma bacia d’água próxima aos seus pés.
- Siga seu próprio conselho, Nilson, você foi o primeiro entre nós a acordar e ainda está ajeitando esse seu cabelo ruivo. - Retrucou Bryan. - Afinal de contas, quanto tempo faz que você não toma um banho?
- Ora essa, não estamos próximos ao mês que as donzelas vão se casar, então, para quê tomaria um banho assim por nada? - Respondeu Nilson, cheirando suas sovaqueiras aparentemente ofendido.
Estava paralisado. Minha cabeça doía tanto que não tinha paciência para ouvir a discussão dos dois. E para piorar o galo cantava novamente com aquele som ensurdecedor, me provando mais uma vez que eu estava acordado. Com toda certeza, aquela voz que me trouxera de volta à realidade foi a de minha querida tia, Shesei.
- Bem, já terminei de arrumar minha cama, estou descendo. Vide, não se atrasem, ou a tia ficará nervosa. - Concluiu Bryan.
Nossa humilde casa era composta por dois aposentos no andar superior. Um pequeno quarto para minha tia e um outro para dividir entre meu primo e irmão. Nele, havia três camas e uma janela não muito grande que permitia a entrada da luz. Minha cama ficava próxima a porta e, na outra ponta do quarto ficava a de Nilson, deixando Bryan entre nós. Eu dormia numa cama diferente deles por vontade própria. Era uma caixa enchida de feno com um cobertor de pele de coelho. Ela não era muito confortável, mas em noites frias o macio cobertor me aquecia fazendo-me imaginar que estava com os cobertores de arminho ou vieros dos grandes aristocratas. Observei Bryan bater a porta, se dirigindo para o corredor, e novamente deitei sobre o feno, mergulhando em meus pensamentos.
Porque eu tinha sido resgatado para aquele dia tenebroso? Por quê tinha que passar por aquilo novamente? Como pude esquecer?! Estava fazendo exatamente dez anos desde aquele dia. Dez anos em que meus pais morreram misteriosamente e não descobriram o assassino desde então. A minha vontade era de nem sair da cama, queria ficar nela e não levantar por um longo tempo....
- Ei, você ficará aí? Vou descer, estou faminto! Te vejo lá embaixo. - Disse Nilson, colocando suas luvas enquanto andava depressa para alcançar Bryan.
Não tinha jeito, tinha que fazer presença lá embaixo e tomar o café-da-manhã normalmente, como se fosse um dia comum. Dei um salto rápido da cama, coloquei minhas meias e apertei meu cinto. Pronto! estava "arrumado", embora desmotivado. Dei meus primeiros passos em direção à escadaria, que me levaria para sala. Desci lentamente cada degrau empoeirado que fazia um ruído irritante a cada passo, e ouvi uns cochichos que vinham da cozinha.
Não tinha jeito, tinha que fazer presença lá embaixo e tomar o café-da-manhã normalmente, como se fosse um dia comum. Dei um salto rápido da cama, e fui até o velho baú feito de carvalho próximo a janela onde guardávamos nossas roupas. Movi a tranca enferrujada facilmente para cima e levantei a tampa maciça. Do conteúdo do baú, peguei minha chemise de lã tingida em azul. Ela era diferente das chemises tradicionais, que eram trajes de mangas longas de comprimento até o tornozelo. Minha tia havia feito um modelo menor para me facilitar no trabalho, que chegava apenas até metade de minha coxa. Embora, eu também mudara um pouco o padrão, rasgando as mangas por conta do calor no campo de agricultura, deixando aparecer meus ombros e braços que, diferentemente dos garotos, eram um pouco mais definidos.
Após puxar as golas de meu traje, continuei pegando de dentro do baú minhas coisas. Coloquei minhas meias, entrei no calção largo amarronzado, apertei meu cinto e, por último, enfiei de qualquer jeito meus pés nas minhas surradas botas de couro. Em seguida, fechei a tampa do baú e dei meus primeiros passos em direção ao corredor , parando no topo da escadaria que me levaria para sala. Desci lentamente cada degrau empoeirado que fazia um ruído irritante a cada passo, e ouvi uns cochichos que vinham da cozinha.
Desci lentamente cada degrau empoeirado que fazia um ruído irritante a cada passo e, chegando a sala, percebi que não havia ninguém ali. Estava tudo normal silencioso como sempre. e ouvi uns cochichos que vinham da cozinha.
Logo ao chegar na cozinha, percebi que a mesa já estava preparada, todos estavam sentados, exceto Shesei que se preocupava em arrumar algumas coisas. Havia uma cadeira vazia, e resolvi sentar ali. Bryan estava a minha direita e Nilson a minha esquerda. "Bom dia Kendall" - Exclamou minha tia em alto e bom tom, parada em frente a mesa, usando o seu costumeiro avental rosa e com um amável sorriso no rosto.
Logo ao chegar na cozinha, percebi que a mesa sustentada por três pernas já estava preparada. Ela era redonda feita de pinho e rachada na face pelo tempo. Sua casca ríspida tinha gradações de marrom escuro e claro. Em sua volta estavam colocadas quatro cadeiras simples sem o encosto, o que as deixavam deveras desconfortáveis quando eu voltava do campo para descansar. Todos estavam sentados, exceto Shesei que se preocupava em arrumar algumas coisas. Havia uma cadeira vazia, e resolvi sentar ali. Bryan estava a minha direita e Nilson a minha esquerda. "Bom dia Kendall" - Exclamou minha tia em alto e bom tom, parada em frente a mesa, usando o seu costumeiro avental rosa e com um amável sorriso no rosto.
"Bom dia..." Respondi friamente.
Acho que não estava conseguindo convencer muito bem, pois, por uma fração de segundos, minha tia e Bryan ficaram em silêncio fitando seus olhos desconfiados em mim. Com certeza tinham notado que tinha algo de errado comigo. O clima estava ficando meio pesado, quando de repente Nilson rompeu o silêncio: "Mãe, a senhora comentou um dia desses que, por causa da guerra, os impostos dobrariam novamente, é verdade?".
Não podia negar, pela primeira vez a boca incontrolável de meu primo Nilson tinha me livrado de uma situação constrangedora, contudo, o que ele havia perguntado também me interessava, já que provavelmente a resposta de minha tia iria mudar o rumo de nossos dias a partir de então.
Atualmente moro no vilarejo de Weilea, situada ao Leste dos territórios do Reino de Obregon, que é formado por cinco grandes vilarejos, e dentre esses, quatro têm seu respectivo Senhor Feudal que representa a autoridade da Realeza naquele local. Exceto, é claro, a Sede do Reino, que fica localizada estrategicamente no centro dos demais vilarejos, sendo protegida de possíveis ataques. Desde que nasci, o Reino de Obregon já estava num clima de Guerra contra o Reino de Volgels, que foi desencadeada há uns quatro anos, deixando vários mortos e miséria pelo vilarejo, por conta dos tributos que pagamos periodicamente ao Senhor Feudal. O aparente motivo da guerra, supostamente é a disputa territorial, o que é contraditório, já que o nosso Reino tem espaço suficiente para comércio entre tantas outras regalias.
"Sim meu filho, não sei se teremos condições de pagá-los." Exclamou ela enquanto suspirava lentamente. Essas palavras não trazia nenhuma esperança para nós, pois, já estávamos trabalhando arduamente para pagar os impostos que devíamos há algum tempo, e mesmo assim estava deveras penoso para sobrevivermos com o pouco que ganhávamos. A tia trabalha no artesanato juntamente com outras mulheres da Vila, Nilson trabalha como ferreiro o dia todo, e Bryan me ajudava na agricultura. Juntos, não conseguíamos pagar muita coisa para o Senhor Feudal, que nos deixa usar "suas" terras como necessitarmos, em troca apenas desse maldito tributo.
Desde que meus pais morreram no vilarejo em que nasci, o vilarejo de ARYBELL, meu irmão e eu ficamos sem onde morar por algum tempo, até nossa querida tia nos encontrar e nos acolher no vilarejo de Weilea juntamente com seu único filho, Nilson, que ainda era muito novo. Ele havia perdido o pai - que fora um grande guerreiro da Realeza - como nós naquela mesma fatalidade, o chamado "Dia da Grande Invasão", o dia em que eu tinha acabado de reviver há poucos minutos naquele terrível pesadelo, quando soldados do Reino de Volgels conseguiram adentrar em Obregon matando diversas pessoas inocentes, saqueando casas e depois as queimando. O Rei e muitos dos seus melhores guerreiros foram mortos durante a batalha. Uma verdadeira Chacina! Até hoje ninguém soube como eles conseguiram invadir o Vilarejo.
Decorrente à morte do rei, seu filho, o Príncipe Richard, assumiu o trono em meio à uma crise militar, devido às baixas no exército e à pressão popular. Contudo, o Rei Richard precisava reabastecer os recursos com o propósito de não sucumbir à grande afronta do exército de Volgels. Por conta disso, os impostos vieram aumentado constantemente, deixando centenas de moradores na nossa situação. Na pior das hipóteses, seremos expulsos desta terra, ficando à deriva da miséria.
"Guerras, não sei para quê fazem isso..." Resmungou Bryan meio pensativo. "Mas tia, nós conseguiremos o dinheiro necessário... Não se preocupe." Concluiu ele, numa forma desesperada de poder acalmar nossa tia. Era claro que, com o recente aumento dos impostos, seria praticamente impossível conseguirmos nos manter ali por mais tempo. Porém, nossa tia já tinha preocupações demais com as despesas, e não queríamos colocar mais um fardo em suas costas...um fardo maior do que Bryan e eu já somos para ela.
Uma chuva de pensamentos invadiam minha cabeça: Quem iria nos garantir a refeição de amanhã? Como iríamos sustentar a casa? E se não conseguíssemos? Ah! era demasiadamente frustrante saber que eu não estava sendo útil em nada, nem pra retribuir o acolhimento de minha tia e de meu primo, nem para garantir o sustento de meu irmão. Meus pensamentos começaram a ficar agitados como o mar num dia de tempestade. "Mudando de assunto." Interrompeu Nilson, como sempre. "Minhas armas estão cada dia melhores, mas ainda preciso aprimorá-las" Disse ele.
Fiquei atônito! Como conseguiam falar de outro assunto? Será que eles não percebiam que nossa situação era crítica? Enquanto Nilson continuava a falar, tudo estava ficando mais lento, e não estava conseguindo mais organizar meus pensamentos, percebi que me faltava pouco para surtar. Estava precisando urgentemente de um pouco de ar.
- Com licença, tenho que começar mais cedo a trabalhar na agricultura! - Interrompi enquanto me levantava da cadeira. - Mas você ainda nem comeu nada, Kendall. - Contestou Nilson. Não havia outra forma, tive que responder novamente de forma grosseira; - Estou sem fome, com licença! Todos ficaram surpresos, porém, permaneceram em silêncio. Virei as costas e caminhei lentamente em direção à saída, fechei a porta e continuei caminhando firmemente, só que desta vez, em direção até a área de cultivo, que ficava ao oeste de casa, não muito longe. Senti uma gota de água caindo sutilmente em meu rosto enquanto caminhava e notei que, as nuvens estavam ficando negras...isso provavelmente era um mal presságio, pois, o radiante sol que há pouco tempo brilhava, agora se escondia por trás das nuvens.
Finalmente chegando até o campo de cultivo que o senhor Feudal nos deixava usufruir, pude então, respirar, embora soubesse que tinha que começar a trabalhar logo, pois o dia ia ser dificílimo. De cabeça baixa, fechei meus olhos, e aspirei profundamente o ar que estava preso dentro de mim. Enfim, senti meu coração desacelerar gradativamente enquanto o vento cantava suavemente por entre as grandes árvores que me cercavam, fazendo com que suas folhas se chocassem, tudo de forma harmônica.
Realmente, o campo de cultivo e sua paisagem era sobremodo extraordinário, contudo, nunca havia parado para admirar sua beleza, talvez pelo fato de que neste local seja colocado em meus ombros a decisão de viver ou morrer. Mas não importava mais, a natureza que me cercava e seu respectivo silêncio me traziam a tão sonhada paz, que eu não alcançava há muito tempo. Ainda com os olhos fechados, dei mais um suspiro...nada, absolutamente nada poderia me tirar essa paz…
No mesmo instante em que meus pensamentos estavam, enfim, tranquilos, percebo uns passos abafados pela rala grama do campo a uns 3 metros de mim que iam se aproximando, até que, ficaram inaudíveis. Reconheci aquela presença inconveniente:
- O que você quer Bryan? - Exclamei, sem olhar para trás.
- Eu vim lhe ajudar na agricultura irmão... - Respondeu ele. - ...e também, percebi que você está um pouco calado… - Acrescentou.
- Eu queria apenas um pouco de ar, mas parece que não consigo ficar sozinho. - Respondi, furioso com a falta de privacidade.
- Irmão, você fica assim todo ano neste dia, será que você não consegue superar? Esqueça esta vingança, se fosse para olhar para trás, você teria olhos na nuca! - Esbravejou ele.
A paz que até pouco tempo me envolvia, tinha sido repelida neste exato momento com o sermão de Bryan. Ele acabara de me pedir para esquecer a única coisa que fazia os meus olhos brilharem a cada manhã: Vingança. Se a intenção dele era em me deixar nervoso, ele conseguiu, não pude me conter.
- Não posso! Não consigo dormir sabendo que o desgraçado que matou nossos pais está lá fora impune. - Esbravejei mais forte ainda enquanto meu sangue fervia dentro de mim.
- Veja a humilhação que passamos a infância toda, sendo criados por nossa tia, ao lado de nosso primo, e não podendo ajudar com os gastos de casa, não fomos nem capazes disto… - Exclamei ofegante.
Realmente, nossa tia Shesei não tinha obrigação nenhuma em nos acolher quando estávamos vagando por aí sem teto, mas ela nos encontrou e nos aqueceu com um calor mais forte do que a de uma grande lareira, a do seu amor familiar. Ah, se é inaceitável viver nessa condição humilhante de inútil, mais inaceitável ainda é não poder me vingar de quem nos colocou nela. - Tem certeza de que não se lembra como era o assassino de nossos pais? - Perguntei, na tentativa agonizante de obter mais alguma informação daquele dia que bryan estivesse esquecido de mencionar.
- Não consigo me lembrar de muita coisa, apenas pessoas fugindo aos gritos, corpos espalhados por todas as partes, e vários soldados de Volgels invadindo a cidade aos montes, porém, tinha um entre eles que se destacava dos demais, sua fisionomia era obscura, usava um capuz e em suas mãos havia garras como de um felino... Era algo realmente assustador. - disse ele, com um rosto espantado.
- Os soldados fizeram um círculo em nossa volta, deixando apenas o homem misterioso e nossos pais. Papai e mamãe ficaram na minha frente tentando me proteger, e acho que começaram a conversar alguma coisa com o guerreiro de garras, depois disso tudo ficou escuro...E só consigo lembrar quando você me acordou desesperando gritando, e nossos pais já estavam mortos . - Concluiu ele, com uma feição deprimente.
- Ainda lembro como se fosse ontem, fogo e fumaça por tudo quanto é parte, nossos pais mortos caídos numa imensa poça de sangue e você desmaiado perto deles, de fato, eles morreram tentando lhe proteger. - Respondi, meio nostálgico.
- Não basta apenas termos passado por isto, e agora temos que lutar pelo pão de cada dia, às vezes me pergunto se não deveria ter morrido naquele dia também… - Exclamou Bryan, com os olhos esbugalhados e depressivos, como se tivesse voltado àquele dia de terror.
- Basta! - Exclamei em voz alta - Você foi a única coisa que restou de nossos pais, foi o legado deles! e não vou deixar que nada apague este legado! - disse eu, deixando bem claro para ele que a morte de nossos pais não foi em vão. Seu corpo tremia, parecia bem assustado. - Confie em mim, irmão, vamos nos livrar desta situação que aquele assassino nos colocou, será sangue por sangue! - Prometi, enquanto ele continuava me encarando com seu olhar de desaprovação.
Simultaneamente, enquanto ele dizia com seus olhos: “”Não trilhe este caminho, irmão!”, notei que alguém vinha em nossa direção por entre o caminho de árvores que conduzia até onde estávamos. Aquele andar apressado, cabelos ruivos. Sem dúvidas era Nilson que já havia acabado de comer e viera à nossa procura, parando a nossa esquerda com uma expressão desafiadora no rosto, dizendo:
- Kendall, Bryan, gostaria de lhes mostrar algo, me sigam! Tenho uma surpresinha para vocês…
- Não Nilson, Bryan e eu estamos ocupados com nosso trabalho na agricultura, temos que trabalhar duro para conseguir o dinheiro necessário para pagar os impostos! - Respondi desanimado, numa tentativa de frustrá-lo.
- Kendall, não seja bobo, vamos com o Nilson. - Disse Bryan, com um sorriso de quem estava tramando alguma coisa. Provavelmente, ele achava que essa surpresinha que Nilson falava iria me fazer esquecer meu objetivo de vingança. Eu poderia jurar que ele não acreditava na eficácia de meu objetivo, e só o fato de pensar em ser subestimado me irritava demasiadamente. Entretanto, ele estava terrivelmente enganado.
- Eu já disse que não vou! - Respondi firmemente enquanto virava as costas, deixando evidente minha decisão final. Além do mais, o caminho por ali era meio perigoso, e não queria gastar energias correndo risco de morte.
- Vamos Kendall, você está com medo dos monstros no caminho? - Gritou Nilson, com um tom desafiador. Não poderia deixar que me subestimassem assim, tinha que voltar atrás em minha decisão.
- ...Claro que não... Vamos logo! - Disse eu sem graça, deixando escapar um sorriso torto.
- Esse é o espírito, me sigam! - Exclamou Nilson, caminhando para um pouco mais longe dali, enquanto o acompanhávamos. Chegando um pouco mais a frente, ele parou de repente, virou-se para mim e disse: - Como você falou que não tinha medo, então você irá na frente, nos conduzindo até o nosso destino. - Eu não tenho medo, apenas diga para onde estamos indo… - Respondi, curioso e refletindo sobre o que eles planejavam.
- Vamos até o local em que eu trabalho como ferreiro, vá até o Norte. - Disse ele, apontando para frente como se mandasse em mim. Então era isso! Iríamos até a cabana onde ele trabalhava como ferreiro juntamente com aquela garota que o auxiliava fazendo porções. Se ela
fosse a surpresa, eu realmente iria ficar muitíssimo feliz.
Eu à conheci com 7 anos e meio, quando Bryan e eu viemos morar em Weilea após um ano do dia da Grande invasão, naquela época era inverno e Shesei havia pedido para mim arranjar madeira com o intuito de aquecermos à casa, caso contrário, morreríamos congelados. Eram tempos difíceis e não havíamos muito dinheiro, e se algo mais fosse gasto não teríamos o que comer noutro dia. Havia naqueles terrenos um lenhador chamado Arundel que morava por trás do bosque ao Norte de nossa casa. E como de costume naquela época, lá estava ele quebrando algumas madeiras com seu afiado machado. Um trabalho deveras árduo para um senhor barrigudo e careca daquela idade. Juntamente com ele, estava seu filho observando as explicações do pai. Ele tinha por volta de uns 10 ou 11 anos. Eu pensei que talvez, ele pudesse me doar algumas lenhas sem nos cobrar nada. Contudo, eu estava enganado.
- Desculpe, menino, mas eu não tenho condições de doar coisa nenhuma - Disse ele cabisbaixo, enquanto colocava as lenhas em seu ombro. - Mas senhor… - Interrompi, tentando fazê-lo repensar. - Eu só tenho lenha o suficiente para minha família, vide. - Acrescentou ele, apontando por trás de suas costas, mostrando sua casa para eu contemplar a visão : Sua esposa em pé ao lado da porta com roupas sujas e um pouco rasgada. Me senti envergonhado, pois, naquele exato instante, eu percebi que havia famílias em condições piores que a nossa. Sem dizer uma palavra sequer, virei as costas e comecei a andar, ainda que com dificuldade por conta de estar me afundando na neve à cada passo. Enquanto caminhava com dificuldade, ouvi alguém por trás de mim dizer: - Papai, o que houve? quem é esse menino com cabelo da cor do oceano? - Olhei para trás, e era a filha mais jovem do lenhador. - Filha, entre já! está frio demais! - Exclamou seu pai, surpreso ao vê-la sair curiosa por detrás da mãe caminhando descalça na neve em sua direção.
- Este rapaz veio pedir lenha querida, mas não podemos dar, temos tão pouco para nos mantermos, agora obedeça seu pai, e volte já para dentro! - Disse sua mãe, tentando convencê-la sem se expor àquele frio devastador. Ela parecia não se importar com o frio e continuou caminhando em nossa direção e, parando, pegou algumas lenhas aos pés de seu pai e vindo até mim, estendeu suas mãos com as lenhas que havia pegado e disse com um sorriso em seus olhos: - Tome! papai me ensinou a sempre dividir as coisas com os outros. Leve para sua mamãe - Finalizou ela. O vento gelado soprava forte deixando nítido o silêncio que pairava sobre nós naquele exato instante. - O-Obrigado… - Respondi enquanto estendia as mãos para pegar as lenhas e encarando seus lindos olhos. Olhei para trás dela esperando pela aprovação de seu pai, que estava olhando para baixo. - Me desculpe, garoto...sim….pode levar! - Disse ele com dificuldades, enquanto limpava seus olhos cheios de lágrimas. Virei as costas e voltei a andar, olhei para trás e o lenhador estava levando seus dois filhos abraçados de volta para casa, continuei a caminhar e voltei para casa. Eu jamais me esqueci daquele gesto magnífico, e desde então fiquei próximo daquela família, estava sempre voltando àquela casa com a finalidade de vê-la Ela era a única pessoa que deixava meu dia radiante. Quando percebi, eu já estava apaixonado, contudo, ela nunca pareceu me corresponder, embora nunca tivesse confessado meus reais sentimentos.
Fiquei feliz só em pensar na possibilidade de ela ser a surpresa que Nilson tanto insistiu para que eu visse. Talvez, ela deixasse este dia melhor, ainda que fosse apenas um sorriso, já valeria à pena. Voltando das lembranças nostálgicas, percebi que estávamos chegando perto da cabana de Nilson, meu coração começava a acelerar a cada passo que dava na expectativa de vê-la. O que era isso que estava sentindo? Seria o peculiar amor? Conforme me indagava sobre o que sentia, de fato, nos aproximávamos da cabana. Finalmente iria ver a minha querida…- O quê é isso? - Disse eu, surpreso com a visão à minha frente. - Não consigo acreditar no que estou vendo… - Disse Nilson, também estupefato com aquilo tudo. - O que aconteceu aqui… - Disse Bryan, com a boca aberta.
Não era possível, a cabana de Nilson estava totalmente destruída. Nilson correu desesperado para dentro da cabana e Bryan e eu fomos logo atrás dele. - Grande parte das armas que se encontravam aqui foram saqueadas - Disse Nilson com as mãos na cabeça. - E o mais importante, onde está ela? - Gritei, desesperado em busca daquela garota com seus lindos olhos. Nilson estava perplexo diante de tal destruição enquanto Bryan olhava tudo em volta pensativo, e eu também: não parava de pensar no que poderia ter acontecido ali. - Quem quer que tenha feito isso, ele não estava somente à procura de espadas! - Disse Bryan, enquanto se agachava para ver algo no chão. - Como pode ter tanta certeza disso? - Exclamou Nilson enquanto se virava aparentemente confuso com a afirmação de Bryan. - Não seja burro, Nilson, está óbvio! basta apenas olhar ao seu redor e perceberá. - Respondeu, Bryan.
No mesmo momento, ambos olhamos para a cena com mais atenção à procura do que Bryan estava dizendo e, com uma certa dificuldade, pude então perceber o que era. Havia no chão alguns cacos de potes espalhados que provavelmente foram quebrados por parte do ladrão em busca de algo mais valioso do que simplesmente armas de um humilde ferreiro. Eu não havia reparado em tais pistas devido à confusão que me cercava no momento. Bryan realmente tinha habilidades analíticas incríveis, ele fora capaz de deduzir algo tão rápido em poucos instantes apenas com alguns detalhes expostos na cabana. - Agora que você disse, realmente tem muitos cacos espalhados em toda parte, e alguns potes estavam visivelmente vazios. Ora, não há sentido em roubar algo vazio, certo? - Indagou Nilson fitando os olhos em Bryan. - Não faça perguntas bobas Nilson, aliás, como só foi ver agora os cacos? Tenho certeza que você também havia visto, certo Kendall? - Ehh, claro… - Respondi, um pouco constrangido por não ter visto algo tão óbvio. - E se por acaso…- Disse Nilson, enquanto dava uma pausa - tiver sido ela que roubou ou até mesmo ajudou alguém a roubar? - Já não disse para parar de fazer perguntas bobas, Nilson? - Exclamou Bryan - Se tivesse sido ela, não teria revistado as coisas que já conhecia. Afinal, ela já trabalhava com você há alguns anos, e provavelmente conhecia todas as coisas preciosas que estavam aqui, logo, não haveria sentido quebrar potes que você conhece o conteúdo. - Exclamou Bryan.
Encostei-me perto do velho e sujo balcão, e comecei a refletir sobre o paradeiro da garota que ali estava. Mas o que será que havia acontecido a ela? , Será que havia voltado para sua casa, ou estava na cabana quando fora invadida?...
Minha mente estava sendo bombardeada por perguntas das quais não encontrava respostas...
Entretanto, todas as perguntas sumiram subitamente ao ouvir uma grito familiar.
–SOCORROOOO. Alguém estava precisando de ajuda. Nilson e Bryan encararam-se na mesma hora e como um pensamento igualitário todos corremos para fora da cabana. Mas ao chegarmos à parte externa não se ouvia mais nada, o bosque ao lado estava quieto e o único barulho que poderia se ouvir era do vento pairando sobre as arvores ali próximas. – mas o que foi isso? - Exclamou Nilson. Bryan estava quieto, provavelmente tentando ouvir a origem daquela misteriosa voz.
Aquilo me deixava muito nervoso, estava com um pressentimento ruim sobre o que iria acontecer, pois não havia dúvidas, aquela era a voz dela, eu a conhecia e sabia que aquela voz que acabara de ouvir só poderia ser dela.
Alguns segundos se passaram quando ouvimos outra vez – SOCORROOOOOO. A voz vinha de um lugar próximo, dentro do bosque.
- Vamos! - Gritou Bryan. – Onde? – Indagou Nilson – Ajudar, é claro! – Respondi, não pude me conter, como Nilson poderia fazer tal pergunta naquela momento, será se ainda não haviam notado que era ela que estava gritando. Não consegui me manter calmo até os garotos decidirem o que fazer. Corri o mais rápido que pude ao encontro do bosque. – Kendall espere! – exclamou Bryan, e percebi que os dois estavam me seguido.
Paramos à margem das grandes árvores e ficamos todos quietos por alguns segundos. Enquanto encarávamos aquele denso caminho que levava ao interior do bosque. Fechei meus olhos e tentei ouvir até os mínimos barulhos que ali fazia, mas não conseguia ouvir mais nada além das folhas se colidindo enquanto o vento soprava. – Não ouço nada. – disse Bryan. – Silêncio. – Respondi bruscamente. Tentei concentrar-me o máximo que consegui. Mas como Bryan havia dito, não conseguia ouvir nada. Algo estava errado ali, como poderia estar tudo tão quieto assim? Não ouvia nem um barulho isolado. Já não estava me sentindo bem, cada nervo do meu corpo tremia, era uma sensação muito angustiadora, como se tudo mostrasse que o verdadeiro perigo estava próximo.
concentrei-me com todas as forças agora, fazendo com que cada molécula do meu corpo ficassem alertas à qualquer barulho. Quando finalmente ouvi algo: - Me soltem!
Sim! Não restava mais dúvidas alguma, era ela mesmo. - Por aqui! - Gritei para Bryan e Nilson enquanto os deixava para trás e corria para dentro da floresta decidido.
À medida que entrávamos mais a fundo na floresta parcialmente escura e misteriosa, ficava notório que havia uma presença humana recente naquele local. - Primo, está sentindo? - Disse Nilson, que corria atrás de mim juntamente com Bryan. - Não, o que foi? - Respondi. - Cheiro de fumaça bem fraco. - Respondeu ele. - Vocês dois, parem! - Berrou Bryan enquanto freava seus pés no solo cheio de galhos quebrados. Nilson e eu paramos rapidamente ao mesmo tempo que olhávamos confusos para Bryan atrás de nós. - Ora essa, porque parastes? - Exclamou Nilson. - Não estamos nem dois minutos correndo, não temos tempo a perder! - Disse eu. - Não sejam tão apressados, vamos ter mais cautela de agora em diante. A cada passo que estamos dando o cheiro da fumaça está ficando mais forte, provavelmente nos encontraremos com o ladrão em poucos minutos. Além disso, vejam estes galhos quebrados ao longo do caminho - Disse ele enquanto apontava para o solo - Eles fazem muito barulho à medida em que são pisados, não queremos ser notados antes de o alcançarmos. - Finalizou ele.
Antes de me ajudar na agricultura, Bryan trabalhara como caçador, então, conhecia muito bem o terreno e o que fazer, sem contar que ele sempre foi um estrategista brilhante. - Observem que no solo um pouco mais a frente há galhos mais quebrados do que outros. Aposto 5 luas que estão tão quebrados assim por causa dos ladrões que passaram aí. - Exclamou Bryan. - Ladrões? - Disse Nilson, enquanto dava uma pausa para falar novamente: - Como assim ladrões? Não concordamos que era apenas uma pessoa que roubou as armas de minha tenda e sequestrou a garota? Como pode afirmar agora que foram ladrões? - Eu não afirmei, os galhos me afirmaram que foram ladrões. Se vocês prestarem mais atenção, perceberão que tantos galhos quebrados assim não são obras de duas pessoas apenas, e sim, mais de de duas. Eu aposto mais 5 luas que os galhos que quebramos atrás de nós enquanto corríamos estão quase equivalentes com os que estão adiante. - Respondeu ele sem olhar para trás, confiante da veracidade de sua dedução.
Eu odiava isso, mas ele estava certo novamente. - Os galhos atrás de nós estão em certas partes mais quebrados dos que os da frente, e em outras, menos quebrados, mas mesmo assim, quase iguais aos da frente. Isso mostra que as partes mais quebradas, eram as partes que foram pisadas duas vezes por dois grupos diferentes de pessoas e, por fim, as partes menos quebradas foram pisadas apenas uma vez, provavelmente por nós. E como o estrago que fizemos nos galhos menos quebrados são quase equivalentes com o estrago nos galhos quebrados adiante que ainda nem pisamos, fica evidente que passaram por aqui uma quantidade de pessoas talvez equivalente à nossa quantidade. - Uau - Disse Nilson boquiaberto. - Então, o que devemos fazer? - Perguntei ansioso, esperando por uma resposta rápida e eficaz. - Vamos correr pelas laterais do caminho para fazer o menor barulho possível e observar os galhos mais quebrados que nos servirão como trilha para os achar. - Respondeu Bryan. Ele havia planejado um excelente plano em poucos segundos com apenas alguns detalhes, talvez eu deveria ter me tornado um caçador também. - Então o que estamos esperando? Vamos seguir o plano! - Disse eu enquanto voltava a correr, só que desta vez, pelas laterais do caminho como meu irmão aconselhara.
Acompanhávamos a trilha que ficava a cada minuto mais longa. - Olhem! há um caminho para a esquerda, e agora? o que faremos? - Perguntou Nilson enquanto avistava uma outra rota que nos desafiava a acertar o caminho por onde os ladrões passaram. Paramos novamente e ficamos indecisos pelo caminho à trilhar, já que, qualquer decisão errada iria nos distanciar deles. - Vocês, vão pelo caminho do norte e eu vou pelo caminho ao oeste - Disse Nilson enquanto caminhava pelo caminho que decidiu ir sem esperar nossa aprovação. - Espere aí, idiota - Disse eu o puxando fortemente de volta pela sua túnica - Se nos separarmos, iremos reduzir nossa força de combate. E como o inimigo parece ser forte, devemos ir para cima deles com tudo o que temos. Teremos mais chances de sucesso dessa forma. - Finalizei, soltando suas vestes. - Vamos à esquerda agora, pois há mais galhos quebrados ao oeste em relação ao caminho do norte. - Disse Bryan, apontando novamente para o solo do caminho ao Oeste. Nilson e eu concordamos acenando a cabeça, e continuamos a correr.
A cada passo que continuávamos dando em direção ao desconhecido, o cheiro de fumaça ia ficando cada vez mais forte, assim como os gritos de súplica mais audíveis. Estávamos perto! - Vejam a fumaça subindo ao horizonte por detrás daquelas árvores. - Disse, enquanto o horizonte parecia cada vez mais distante. - Shhh, silêncio agora! - Disse Bryan desacelerando gradualmente e dando os passos com a maior cautela possível. - Lá estão eles! - Susurrou Nilson. Estávamos praticamente agachados por detrás das árvores que serviam como muralhas, nos escondendo da visão dos homens que estavam no campo aberto ogo a frentel, e desta vez estava mais audível as conversas daqueles bárbaros que a sequestraram. - HA HA HA. Arrumem tudo para partirmos, o mestre com certeza ficará feliz com resultado de nossa missão. - Disse um ladrão de cabelos longos, loiros e comparado aos outros três ladrões que Bryan previra, estava deveras arrumado. Com toda certeza ele seria o líder daquele bando. - Ahh, mas já chefe? - Disse outro ladrão enquanto se encaminhava em direção a alguém ali perto, e acrescentou - Não podemos antes ter alguma diversão com esta bela jovem?
- Não po-d...e se...r, é ela! - Exclamou Nilson completamente estupefato. Lá estava ela, a minha amada com seus longos cabelos ruivos e olhos da cor de uma linda lagoa ensolarada, a minha amada que estava com seus punhos amarrados e deitada no chão imóvel, chão sujo para seu vestido delicado, assim como a sua pele macia igual a neve, seu nome era Kohatsu! - Vocês podem fazer o que quiserem com ela, mas não a matem - Disse o líder que não parecia se importar. Os ladrões se levantaram, e um deles começou a tentar puxar o vestido de Kohatsu, certamente suas intenções eram as mais horrendas possíveis. Que visão! Meu corpo tremia de medo com o que poderia acontecer, era como se eu também estivesse imóvel diante daquela situação, não sabia o que fazer. - Cratch! - Um ruído perto de nós fez o ar se calar, olhei para os lados à procura da origem do misterioso barulho, quando vejo Bryan com as mãos na boca de Nilson. - O que houve? - Disse apenas mexendo meus lábios sem deixar sair som algum de minha garganta. Bryan não respondia nada, muito menos tirava suas mãos da boca de Nilson que estava com olhos esbugalhados. Era como se também estivessem paralisados, até que, Nilson levantou sua mão trêmula, apontando uma folha que estava perto e amassada. Entendi que ele acabara de quebrar uma folha escandalosa e denunciara nossa localização. - O que foi isso? - Disse um dos ladrões. - Quem está aí? - Disse o líder enquanto empunhava sua espada. Ah, natureza traiçoeira! Há pouco tempo nos ajudara com os galhos, mas agora nos colocou numa situação fatal por causa de uma simples folha.
Mesmo com o barulho me mantive imóvel, pois sabia que entrar em pânico não nos ajudaria em nada naquela situação. Virei-me novamente para ver o que os ladrões faziam, os três agora se encontravam em posição de combate, - Olhe ali inútilI - vociferou o líder dos ladrões. e com um sinal de afirmação o homem de cabelos loiros consentiu e se dirigiu a outra extremidade encarando a escuridão à procura da origem do barulho. - Você também, não fique aí quieto, faça algo! - gritou novamente o líder para o outro ladrão que apenas observava a cena imóvel, e seguindo o comando do líder ele se dirigiu a extremidade oposta a que o outro se encontrava. e por azar ou não ele se aproximava de onde estávamos escondidos. Acenei com a mão para Bryan e Nilson pedindo para que ficassem o mais quietos possíveis, apenas um outro pequeno barulho naquela situação já poderia significar a nossa morte. Minhas mãos tremiam, a tensão naquele lugar estava muito elevada, senti a respiração fraca dos garotos por trás de mim e era como se conseguisse ouvir as engrenagens da mente de Bryan trabalhando em um plano de fuga, mas não poderia depender de Bryan sempre que houvesse alguma coisa errada, tinha que pensar em algo para nos tirar daquela situação.
O fator surpresa havia sido descartado pelo barulho que Nilson havia provocado, agora só nos restava atacar o bando e salvar Kohatsu de uma vez por todas, pois não suportava vê-la jogada no chão e ficar quieto sem fazer absolutamente nada como um covarde. O homem encapuzado se aproximava cada vez mais da nossa localização, tínhamos que fazer algo rápido - Droga Kendall, o que faremos? - Sussurrou Nilson - Vamos sair daqui e nos revelar - Respondi, meio sério. Nilson me encarou boquiaberto - Você tem certeza disso, é a melhor opção? - Si... - Não! - Bryan interrompeu a minha resposta - É muito perigoso - Acrescentou ele. - Mas eu vou assim mesmo, fiquem aí, é mais seguro para vocês. - Finalizei em um tom mais agudo. - Está bem, se você não vai mudar de ideia mesmo, deixe-me lhe informar sobre algo que desconfio. - Retrucou Bryan - e vindo em minha direção cochichou em meu ouvido. - Incrível, entendo, farei isso! - Exclamei admirado.
O vento soprava como se fosse chover, e as folhas pareciam se chocar à nossa procura, deixando claro que havia invasores naquele meio. Tudo parecia estar contra nós e eu continuava a tremer, talvez por ser meu primeiro combate que certamente levará alguém à morte. O líder caminhou até Kohatsu, e colocou um pé em cima de seu corpo, enquanto encarava a floresta em busca de algo errado. - Por fav-or, n. .não me machuque - Disse Kohatsu, com uma voz cansada. - Sua maldita meretriz! - Gritou o líder enquanto disparava uma série de chutes nela. - Eu não disse para parar de gritar? Diga-me! Chamastes alguém? Diga-me! - Kohatsu apertou os olhos, e abriu sua boca: Kendallllllllll - A voz ressoou pela floresta por alguns segundos.
- Agora chega! - Interrompi aquela cena violenta enquanto saía dos arbustos e caminhava vagarosamente para o campo aberto. Os três ladrões no campo se viraram para mim e puxaram suas espadas, contudo, não se moveram. Apesar de meus olhos não fazerem o papel de meus lábios, eles gritavam tão alto que não foi preciso eu dizer uma só palavra para entenderem com apenas um olhar minha intenção assassina. - Quem é você? - Perguntou o líder, colocando a espada no pescoço de Kohatsu para me afrontar. Após alguns segundos de silêncio me lembrando das cenas de agressão que acabara de ver contra meu próprio coração, respondi furioso: - A última coisa que você verá! -. Ele sorriu arrogantemente, e disse: - Apareça e mate-o, Dafar. - Kendall, agoraaaa! - Gritou Bryan, revelando-se atrás dos arbustos. Simultaneamente, o ladrão chamado Dafar saiu de algum esconderijo nos arbustos e apareceu por trás de mim com uma espada cintilante vindo velozmente na altura de meu pescoço. Me agachei o mais rápido que pude conseguindo me desviar de um golpe fatal, enquanto Bryan aparecia pulando em cima de mim para me tirar de perto dele. - Você está bem, irmão? - Perguntou Bryan caído no chão juntamente comigo. - Não, estou com sede… - Respondi. - Como pode ter sede numa hora desta?! - Disse ele. - E quem disse que é de água? - Disse eu, me levantando para o contra-ataque.
- Ohhhhh, estou deveras impressionado, como conseguiu se desviar de um ataque destes, sendo apenas um garoto? - Disse o líder com um olhar de desprezo. - Como sabia que havia uma quarta pessoa escondida entre as árvores? - Perguntou ele. - Eu não seria capaz de descobrir isso se não fosse pelo meu irmão, Bryan, que pôde contar o número de pessoas que passou pela trilha até aqui apenas pela quantidade de galhos quebrados ao longo do caminho. Certo, Bryan? - Sim irmão, por isso achei incoerente haver 3 apenas de vocês aí, enquanto a garota está sem condições de correr. Provavelmente vocês a levaram em seus ombros, não permitindo que ela fosse contada entre os que pisaram nos galhos. Além do mais, seu subordinado é um tanto incapaz de esconder sua presença por muito tempo. Com isso, eu logo alertei a Kendall sobre um possível homem escondido ao nosso redor, e foi questão de tempo apenas para que ele aparecesse. - Respondeu Bryan como se os ladrões fossem completos idiotas.
- Hmmm, entendo. Kendall, certo? Realmente seu irmão é brilhante. Seria ele mais inteligente do que você, Barton? - Disse o líder olhando para um outro ladrão que estava próximo dele. Sua aparência era de um homem de uns trinta anos, que não pareceu gostar de ouvir do próprio chefe na possibilidade de perder para um garoto, e logo encarou Bryan, que pareceu o esnobar. Todos os ladrões, exceto o tal Barton, começaram a gargalhar, deixando evidente que não estavam intimidados com a nossa presença. - Haha, nunca vi alguém com uma capacidade de raciocinar tão rápido quanto você, Barton, seria esta criança superior a você? - Hahaha...- Disse o ladrão que acabara de me atacar, fazendo os outros rirem mais ainda. - Uma criança, disse bem, uma criança… Que só é capaz de pensar escondido atrás de árvores, e vocês ainda querem me ofender? Ah, por favor! - Disse o ladrão chamado Barton, desprezando Bryan.
No mesmo instante, Bryan abriu seus olhos como se tivesse despertado de um longo sono, provavelmente fora ofendido com a comparação, e seu olhar estava fixo em Barton, deixando o clima mais tenso do que já estava. - Bem, estamos indo, Barton, pegue a garota, e os demais, exceto Elder, peguem nossas coisas e vamos partir! Elder, cuide das crianças. - Disse o líder se referindo ao ladrão da espada cintilante que me atacara. Os três ladrões apagaram a fogueira, recolheram suas sacolas e se encaminharam em direção ao caminho de árvores estreito ao Oeste. Antes de sumir de vista no horizonte com seus subordinados, o líder parou de costas por alguns segundos e olhou para trás, como se estivesse esperando uma resposta de Elder. Não sabia se ele daria alguma ordem ou se mandaria ele retornar ao grupo.
- Pode deixar chefe, em breve alcançarei vocês após decapitá-los. - Respondeu Elder.
Fiquei inerte vendo Kohatsu sendo colocada sobre os ombros de Barton e desaparecendo no horizonte enevoado em meio aos ladrões A raiva em mim aumentava de forma que eu não podia exprimir com simples gritos, era algo realmente sobrenatural que ocorria dentro do meu ser. Agora, estava Bryan e eu no campo aberto contra apenas um ladrão, o que parecia ser mais vantajoso desta forma.
- Bem, vamos acabar logo com isso… - Resmungou Elder, deixando evidente que éramos apenas um estorvo em seu caminho e nada além disso.
- Xalabaia MakerMembro
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Re: Parceiros de Honra - Capitulo 01 : Coração Destemido
Seg Abr 06, 2015 9:03 pm
NIIIIIICE, man
Re: Parceiros de Honra - Capitulo 01 : Coração Destemido
Seg Abr 06, 2015 9:09 pm
Obrigado pelo comentário! Caso queiram, em breve posso postar os capítulos posteriores.
Re: Parceiros de Honra - Capitulo 01 : Coração Destemido
Seg Abr 06, 2015 9:22 pm
Pode postar. Vamos aguardar
- OgraKMembro
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Re: Parceiros de Honra - Capitulo 01 : Coração Destemido
Seg Abr 06, 2015 9:32 pm
Wow tioh ... Muito bom me identifiquei pacas com vários personagens com o Nilson ...
Re: Parceiros de Honra - Capitulo 01 : Coração Destemido
Seg Abr 06, 2015 9:49 pm
Muito obrigado a todos! Fico feliz em ter os agradado, em breve estarei postando mais.
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